Um grupo de pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) desenvolveu um biocombustível que vai competir com o diesel e a gasolina. A princípio, o novo invento foi desenvolvido a partir de óleos vegetais. E ele pode ser a revolução da energia limpa.

Trata-se de catalisadores que permitem a degradação de óleos vegetais em combustíveis alternativos de alta densidade energética.

A pesquisa é do Laboratório de Análises Ambientais, Processamento Primário e Biocombustíveis (LABPROBIO/NUPPRAR), em parceria com a Universidade Federal da Paraíba (UFPB).

Os resultados são biocombustíveis conhecidos como “drop-in fuels”, que podem substituir diretamente a gasolina, o diesel e o querosene de aviação utilizados atualmente.

A cientista Amanda Duarte Gondim, coorientadora da tese que resultou na invenção, explica que o trabalho está centrado no desenvolvimento de catalisadores à base de argila mineral modificada com óxido de nióbio ou óxido de cobre.

Esses catalisadores promovem a desoxigenação de óleos vegetais, transformando-os em biocombustíveis e gerando subprodutos valiosos, como ácido oleico e ácido palmítico. “Catalisadores são substâncias adicionadas a uma reação para acelerar ou direcionar a produção de compostos desejados”, afirma Gondim.

Esses ácidos tem grande aplicação nas indústrias alimentícia, cosmética e química. Além disso, desempenharem um papel crucial na fabricação de biocombustíveis, detergentes e lubrificantes. Ao mesmo tempo, a produção desses subprodutos em larga escala pode reduzir o impacto ambiental de atividades industriais e agrícolas, ao mesmo tempo que cria alternativas sustentáveis de geração de energia.

Biocombustível revolucionário tem desenvolvimento em colaboração

A pesquisa contou também com a colaboração de cientistas da UFPB, onde o uso de argilominerais, particularmente a vermiculita, foi uma contribuição essencial. Amanda Gondim esclarece: “Essa parceria surgiu devido à expertise da equipe da Paraíba no estudo de argilominerais, enquanto a UFRN ficou responsável pelas etapas experimentais e metodológicas.”

Além de Gondim, pesquisadoras como Ana Paula Alves Guedes e Tatiana Rita de Lima Nascimento desempenharam um papel importante no desenvolvimento dos métodos de pesquisa, enquanto Aruzza Mabel de Morais Araújo e Amanda Duarte Gondim concentraram-se nas fases experimentais.

O doutorando Márcio Rodrigo Oliveira de Souza, da UFPB, esteve envolvido em todas as etapas do estudo, destacando que a principal aplicação da tecnologia está na degradação do óleo de cártamo, utilizado na produção de combustíveis verdes.

“O óleo de cártamo, também conhecido como açafrão-bastardo, é uma oleaginosa cultivada em mais de 20 países, principalmente em regiões áridas. No Brasil, seu cultivo foi inserido no cronograma de inovação da cadeia produtiva de biodiesel pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento”, observa Márcio de Souza. Ele enfatiza que o semiárido nordestino oferece condições ideais para o cultivo da oleaginosa, devido às características favoráveis de solo e clima da região.

Aplicação industrial

Márcio ressalta a vantagem econômica do catalisador desenvolvido, que utiliza materiais amplamente disponíveis no Brasil, como o nióbio e a vermiculita. “Em comparação com catalisadores sintéticos, nossa solução oferece um desempenho equivalente na degradação de óleos vegetais, porém a um custo significativamente mais baixo”, afirma Souza.

O óleo de cártamo, por possuir um teor de óleo de aproximadamente 34% da sua massa total, passa por conversão em biodiesel verde, uma fonte de energia renovável com emissões reduzidas de poluentes.

De acordo com Souza, os testes indicam que o catalisador é capaz de produzir compostos com alta estabilidade térmica, como biodiesel e bioquerosene, além de subprodutos para as indústrias química e cosmética. “Estamos conduzindo experimentos com diversos óleos vegetais e polímeros para aprimorar o processo e analisar os subprodutos gerados”, explica Souza.

A pesquisadora Aruzza Mabel ressalta a relevância desses testes contínuos para assegurar a eficiência e segurança do catalisador em variadas condições.

Durante entrevistas, ela e Márcio mencionaram outras potenciais aplicações da tecnologia, como a transformação de resíduos plásticos, incluindo garrafas PET, em combustível verde.

Próximos passos do projeto

Em setembro, ocorreu o registro da patente da invenção intitulada “Catalisadores à base de argilominerais modificados com óxido de nióbio e/ou óxido de cobre”.

O documento descreve detalhadamente o processo de criação e aplicação dos catalisadores na degradação de óleos vegetais.

A patente ficará sob sigilo por um período de 18 meses, aguardando sua publicação e o exame, que pode levar até 36 meses.

Para Aruzza Mabel, o registro da patente não apenas assegura a proteção da tecnologia, mas também amplia o reconhecimento dos pesquisadores. Desse modo, facilitando o acesso a financiamentos e novas colaborações. “Isso nos concede exclusividade na exploração comercial da invenção, o que pode atrair mais oportunidades e fortalecer nossa reputação no setor de combustíveis renováveis”, afirma Aruzza.

Fonte: Portal NE9.

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